O filme “Nosso Lar” já é um dos recordes do cinema brasileiro. Lançado nos cinemas de todo o país em 3 de setembro, quase 2,5 milhões de pessoas já assistiram a película e a arrecadação superou o que foi gasto com o filme. Em duas semanas de exibição, o faturamento foi de R$ 23.096.161.77. Para a realização do filme foram gastos cerca de R$ 20 milhões.
Segue abaixo crítica do filme feita pelo jornalista, tarólogo e analista junguiano, João Rafael Torres. O texto foi publicado no Blog da Revista do Correio.
Uma vida além da vida
O cinema nacional quebrou, recentemente, mais um recorde. O filme Nosso Lar, inspirado na obra homônima de Chico Xavier, ultrapassou a marca de um milhão de espectadores nos cinco primeiros dias de exibição. Todos interessados em conhecer uma versão do que seria a vida após a morte, de acordo com a crença espírita. Para construir tal realidade, o roteirista e diretor Wagner de Assis não poupou recursos nem tecnologia: a obra também tem o marco de ser a produção mais cara da história nas películas brasileiras, com orçamento estimado em R$ 20 milhões. É o Avatar à brasileira.
Mas certamente não é a tecnologia o que mais atrai tanta gente desejosa de conhecer o Nosso Lar. Nem também a convicção no espiritismo: três de cinco amigos que assistiram o filme seguem outra orientação religiosa. Na verdade, o que os conduziu à escolha foi a curiosidade sobre o que estaria além da morte – uma das questões existenciais do homem.
O Brasil, país de maior adesão ao kardecismo, também é rei na miscigenação das crenças. Propicia, por exemplo, que um católico tome um passe vez por outra, sem que isso traga um conflito sobre a própria fé. Chico escreveu a obra em 1944 e, até hoje, ela é a mais vendida entre seus livros. Nela, a continuidade do espírito é marcada por situações que conhecemos bem: trabalho, filas nos meios de transporte, alimento para o corpo (astral, no caso), regras, disciplina, modernos centros de comunicação, doenças e tratamentos médicos... Algo bem distante da plácida e romântica ideia de vida eterna!
É essa a realidade complexa que o médico André Luiz encontra ao adentrar na cidade espiritual. Relatos que, na crença, ele transmitiu a Chico por meio da psicografia – a escrita mediúnica, prática dos espíritas. A continuidade do espírito após a morte do corpo é a base para todas as religiões. Nelas, encontramos respostas para nossas inquietações mais profundas, damos sentido à vida – e assim o é desde a formação das civilizações. Para o psiquiatra suíço C.G. Jung, fundador da Psicologia Analítica, a crença nos espíritos é reforçada sempre que há uma distorção dos valores humanos. “A percepção de uma realidade espiritual arranca-o constantemente dos laços que o prendem a um mundo puramente sensível e material, e lhe incute a certeza de uma realidade espiritual cujas leis ele deve observar tão cuidadosamente e com tanto temor quanto as leis da natureza física circundante”, ensina em A natureza da psique (Ed. Vozes).
Partindo dessa óptica, a corrida aos cinemas ultrapassa a curiosidade. Ela evidencia a eterna busca, a necessidade de resgate da espiritualidade – independentemente de conceitos religiosos. Nosso Lar e as demais obras que falam da vida além-túmulo não nos levam a refletir sobre a morte. É justamente o contrário: buscamos, com elas, uma justificativa para viver. Algo que nos conforte e valide os esforços cotidianos de sermos pessoas melhores.
João Rafael Torres é jornalista, tarólogo e analista junguiano. Contato pelo email consulta@tarotanalitico.com.br.
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